A cada zona corresponde o seu órgão estatutário – o Conselho Regional – constituído por representantes provenientes das comunidades locais, objetivando a análise das dinâmicas, as carências e as respostas a dar aos problemas colocados em cada território.
Desta feita, as reuniões anuais destes órgãos tiveram início em Sesimbra, com o Conselho Regional do Sul no passado dia 12 de fevereiro. A administração prestou contas relativamente ao exercício do ano de 2021, apreciou-se a atualidade do setor marítimo, das pescas e das comunidades ribeirinhas, tentando traçar linhas de trabalho para o corrente ano.
Depois das informações prestadas sobre a solidez e o crescimento da Mútua em 2021, fruto de uma gestão competente e criteriosa, os membros do Conselho Regional do Sul salientaram múltiplas preocupações que assolam as comunidades da zona Sul.
Para além das questões que são transversais a todo o território – escassez de força de trabalho, subida vertiginosa dos preços dos combustíveis, uma complexa carga burocrática, questões de segurança como barras e portos assoreados, falta de escadas de acesso às embarcações e ausência de defensas nos cais ou a desvalorização social das profissões ligadas ao mar – existem matérias específicas de cada comunidade que assumem especial relevância e preocupação.
Em Setúbal, constata-se o “eterno” e caduco mecanismo de encalhe de embarcações que carece há muito de substituição e ausência de bombas de combustível para abastecer a pesca profissional, tendo que se deslocar ao cais do recreio para o efeito.
Em Sesimbra, tendo em conta a especificidade local e a histórica vocação para pesca com palangre, designadamente dirigido ao espada preto ou à pescada, bem como as muitas dezenas de embarcações que utilizam armadilhas dirigidas à captura do polvo, deparam-se como uma questão que tem paralisado parte da frota – a ausência de isco. Como é sabido, com a pesca do Cerco praticamente parada em quase todo o país, o isco vai faltando e o que chega à primeira venda é licitado a preços proibitivos, inviabilizando a continuidade da atividade para muitos trabalhadores e empresas de pesca, vendo-se desta forma privados de rendimentos.
Outra matéria sempre abordada neste Conselho Regional prende-se com as dificuldades de circulação rodoviária de acesso a esta vila, tendo em conta também a sua importância para as pescas nacionais – é sempre importante referir que Sesimbra é o porto onde, em termos de quantidades, mais pescado é descarregado no país. Esta questão entronca com a ausência de cuidados primários de saúde ao nível das urgências numa comunidade onde a pesca tem uma relevância tão grande e onde a sinistralidade é constantemente elevada. Os sinistrados têm que fazer uma viagem de cerca de 40 minutos para conseguirem uma avaliação médica na unidade de saúde mais próxima!
Regista-se ainda que o acesso à formação profissional não é igual em todos os Portos da Zona Sul, criando desigualdades de oportunidades nesta área.
Estas são apenas algumas das questões mais relevantes apresentadas pelos membros do Conselho Regional do Sul, que requerem a maior atenção da administração central e das mais diversas entidades, públicas ou privadas, com intervenção nas referidas áreas.
«A Mútua dos Pescadores continuará o seu périplo pelo país marítimo, confrontando e confrontando-se com a realidade concreta, dando visibilidade aos problemas identificados e contribuindo à sua medida para a resolução dos mesmos, acompanhando as transformações e as mutações diárias de um tempo que não se suspende – colocando constantemente novas questões a carecer de novas respostas.»