As ONG e organizações de pescadores apelam à Comissão Europeia e aos Estados-Membros a promoverem iniciativas de pesca inovadoras, ecológicas, de pequena escala e de baixo impacto como a chave para sustentar os meios de subsistência das comunidades costeiras, promovendo simultaneamente um oceano saudável.
Perante a escalada dos desafios ambientais e económicos, um novo relatório publicado, no passado dia 1 de outubro, pela Seas At Risk, Low Impact Fishers of Europe, Ecologistas en Acción, BUND e a ONG portuguesa Sciaena revela como os modelos de negócio inovadores desenvolvidos por pequenos pescadores de baixo impacto e vendedores de pescado podem catalisar a mudança no setor das pescas, na vanguarda da transição ecológica da UE.
O relatório apresenta doze modelos de negócio alternativos bem-sucedidos para abordar questões críticas como a perda de biodiversidade, as alterações climáticas e as lutas socioeconómicas das comunidades costeiras. Estes modelos abordam problemas como o domínio do mercado por intermediários, a concentração de quotas de pesca nas mãos de alguns interesses de maior escala, regulamentos de pesca inadequados e populações de peixes em declínio.
Ao desenvolver estratégias como a comercialização direta, novos sistemas de rotulagem e mercados rentáveis para espécies invasoras, o relatório revela como os modelos empresariais inovadores não só oferecem novas oportunidades de mercado, como também garantem preços mais justos para os pescadores de pequena escala e de baixo impacto, que são frequentemente marginalizados nos mercados tradicionais, minimizando simultaneamente a pegada ambiental.
As ONG e organizações de pescadores pedem aos decisores políticos para agir de acordo com as conclusões do relatório, abordando os impactos sociais, económicos e ambientais mais amplos de regras de mercado inadequadas. Estes grupos sublinham a necessidade de uma abordagem regulamentar equilibrada que reconheça os contributos únicos da pesca de pequena escala e de baixo impacto. As principais recomendações incluem a concessão de acesso prioritário às quotas de pesca, a aplicação de sistemas de rotulagem que reconheçam o valor dos produtos e o aumento do apoio financeiro e administrativo para garantir que estas pescarias possam prosperar e contribuir para um futuro sustentável.
Nicolas Blanc, Coordenador de Pescas e Biodiversidade na Sciaena, refere: “O oceano enfrenta várias ameaças que colocam a saúde do planeta e a saúde humana em risco. Para caminharmos verdadeiramente para um futuro onde o ser humano vive em harmonia com o mar, o setor das pescas tem de transitar para um paradigma onde a sua atividade tem um baixo impacto no meio marinho e onde, enquanto sociedade, damos benefícios àqueles que exercem a sua atividade da forma mais responsável possível em relação à biodiversidade marinha. Só assim poderemos ter um oceano resiliente e capaz de nos ajudar a mitigar as consequências da crise climática”.
Marta Cavallé, Secretária Executiva da Low Impact Fishers of Europe, afirma: “Os pescadores artesanais são a espinha dorsal das nossas comunidades costeiras. Há muito tempo que são exemplos da pesca de baixo impacto, mas as suas contribuições são pouco reconhecidas e os seus meios de subsistência estão cada vez mais em risco. Ao impulsionar estas preciosas práticas inovadoras, podemos garantir a prosperidade das comunidades costeiras e a resiliência dos ecossistemas marinhos. Para tornar esta transição uma realidade, é essencial o apoio regulamentar e financeiro da Comissão Europeia e dos Estados-Membros”.