Cientistas apelam ao Comissário Europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas para salvar o anequim

mar 3 hpMais de 40 especialistas e investigadores de tubarões de diversos países da União Europeia (UE) enviaram uma carta pública ao Comissário Europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, exigindo medidas cruciais e decisivas para recuperar e proteger o anequim, uma das espécies de tubarões mais ameaçadas do Oceano Atlântico.
Tendo em conta que grande parte das capturas desta espécie no Atlântico Norte são realizadas por Espanha e Portugal, a carta foi subscrita por vários investigadores dos dois países.
Este pedido surge num momento crucial, em que os representantes dos estados-membros da UE estão a definir a posição que vão assumir na próxima reunião anual da Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT), marcada para meados de novembro, onde serão discutidas e decididas medidas de gestão para várias unidades populacionais de peixes do Atlântico, incluindo o anequim. Este será um momento-chave que, inevitavelmente, moldará o futuro desta espécie.
 
João Correia professor no Instituto Politécnico Leiria, membro do Grupo de Especialistas em Tubarões da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), diz que "o anequim é um exemplo primordial de um incrível predador oceânico que os humanos colocaram numa situação terrível num prazo relativamente curto". Quando questionado sobre o porquê desta espécie ser tão importante, João Correia respondeu que "as espécies no topo da cadeia alimentar têm um papel enorme em qualquer ecossistema, e os anequins não são diferentes nas nossas águas. A sua presença é um sinal de um ambiente marinho saudável e produtivo, e o seu número no Atlântico Norte tem vindo a diminuir há décadas devido à elevada pressão pesqueira, nomeadamente de embarcações portuguesas e espanholas. A sua população no Atlântico Norte está numa fase tão crítica que as capturas precisam de ser completamente interrompidas para que possa recuperar nos próximos 25 anos.”
 
A maioria das capturas são feitas por embarcações que pescam com palangre, uma longa linha com milhares de anzóis ao longo desta, que têm como alvo o espadarte e o tubarão-azul, e uma grande parte dos indivíduos capturados são juvenis que ainda não tiveram a oportunidade de se reproduzir, prejudicando ainda mais as hipóteses de recuperação desta população. Este e outros fatores levaram à inclusão do anequim no Apêndice II da CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, em agosto de 2019, que confirma o alarmante estado de conservação desta espécie. Esta decisão baseou-se em vários estudos científicos e no facto de as atuais medidas de gestão em vigor não impedirem o esgotamento das unidades populacionais. No ano passado, em dezembro, Espanha e Portugal emitiram uma proibição de desembarque para os anequins capturados em alto-mar, no Atlântico Norte, sendo que a Espanha e mais recentemente Portugal foram mais longe ao alargar esta proibição às capturas em águas nacionais. No entanto, as autoridades pesqueiras da UE continuam a insistir em querer que as frotas da UE possam capturar esta espécie, contrariando os pareceres científicos e a proibição atual de desembarques em Portugal e Espanha.